domingo, 7 de agosto de 2011

A Verdade por trás de Piedade

Nota do Phil do Futuro (2014): bom, este texto foi escrito há alguns anos, numa época em que eu escrevia o que me vinha à cabeça, e não me preocupava tanto com a organização das ideias, mas sim com a liberdade da escrita em si, e em extravasar opiniões (fossem elas momentâneas ou sólidas) sobre qualquer assunto. O texto abaixo seguiu a linha de raciocínio que eu tinha na época, e foi escrito conforme eu ia pensando, sem revisões ou coisas do tipo. Deixo ele salvo aqui apenas por se tratar de um arquivo que me ajuda a olhar para o passado e analisar se tive alguma evolução não somente na escrita, mas na maneira de enxergar as coisas. Hoje tenho uma filosofia um pouco diferente: faça o que bem entende, só não me encha a porra do saco. Mas você vai perceber que as palavras abaixo ilustram uma opinião muito mais direcionada, e que hoje eu já não julgo como certa ou errada, porque não me importo. Bom, já advoguei a favor do meu Eu do passado, até mais.


(...)

"Acima de tudo, é preciso ter respeito por toda e qualquer forma de vida, seja ela consciente ou não." 

É partindo desta premissa que meu raciocínio segue e desenvolve este texto.

A vida na Terra é um grande sistema, onde tudo contribui para tudo, diretamente ou indiretamente. Então, por meio deste texto pretendo mostrar minha análise sobre esse sistema e sobre a supervalorização de algumas formas de vida.

Estive lendo alguns sites sobre vegetarianismo, e percebi que muitas pessoas se agarram a um motivo específico como principal razão para parar de comer carne; um dos motivos é a morte dos animaisClaro que não se trata apenas da morte, mas da dor, sofrimento e agonia, que nós como seres humanos dotados de empatia, sentimos quando vemos outro ser vivo e com sistema orgânico semelhante ao nosso passar por mutilações e sofrimentos abomináveis. Quando digo “sistema orgânico semelhante ao nosso” me refiro ao fato de os animais terem órgãos internos, terminações nervosas, órgãos sensoriais, entre outras características que nos diferem e muito dos seres vivos de outros "reinos", como os vegetais por exemplo, mas isso vou retomar mais tarde.

Também não é meu objetivo me opor aos vegetarianos ou seja lá quem for. Longe disso. Até admiro aqueles que seguem uma linha de pensamento construtiva e que pensam nos outros seres (não apenas humanos), pois levo em consideração tudo aquilo que possui vida, desde o animal mais complexo e estruturado, até ao menor ser unicelular que possa existir, e que pelo fato de ter uma vida assim tão “simples”, não deixa de ser tão complexo quanto o primeiro que citei.

Agora, por favor, tentem seguir essa linha de raciocínio: todo o sistema de vida na Terra está interligado. Um ser vivo só pode se alimentar de algo que também já tenha sido vivo. Soja, milho, vegetais em geral, frutas, tudo isso é orgânico, tem sua própria maneira de se desenvolver, de se adaptar, de tentar se proteger; resumindo: é uma forma de vida. Claro que até onde sabemos e compreendemos essa forma de vida não possuí um padrão de consciência; não sentem dor, etc. Todos usufruímos dessas formas de vida para a obtenção de energia, e assim continuarmos vivos. Plantamos, colhemos na época certa, preparamos e comemos, é assim que funciona o nosso ciclo de absorção de energia quando usufruímos de vegetais e cereais, por exemplo. Em relação ao mundo animal. Existe todo um sistema envolvido também, assim como no vegetal. O ser humano tem fazendas, com criação de gados por exemplo. Cria os gados, os vende, eles são abatidos, chegam nos açougues, nós compramos, preparamos e comemos, e é assim que funciona o ciclo quando usufruímos da energia de outros animais. Nesse ciclo, pulei partes importantes que merecem destaque. Como no caso das criações de gado e outros animais unicamente para abate, onde os animais são privados de sua liberdade, passam a vida inteira apenas sendo preparados para depois serem mortos, passando por um processo extremamente doloroso e cruel.

Ok, isso é verdade.

Enfim, até agora só citei fatos de uma maneira bem breve, mas não mostrei onde quero chegar. O ponto é: pessoas que não comem carne com base na premissa “não como seres vivos, não maltrato, não desrespeito a vida” estão se enganando. A realidade, ao meu ver, é algo bem aceitável, e comum, que não precisaria ser disfarçada por um lema falso de respeito à vida animal.

As pessoas, principalmente aquelas com empatia, sofrem ao ver outras formas de vida sofrendo também. No caso dos animais, que são seres inocentes e movidos pelo instinto, é realmente cruel imaginar esses seres sendo massacrados um após o outro, triturados, fatiados, muitos ainda vivos e sentindo dor. E é daí que partem as propagandas sensacionalistas com imagens comparando cenas de animais em seu habitat natural, vivendo normalmente, e os mesmos animais tendo suas carnes fatiadas e suas vidas tiradas de maneira brutal, para o nosso consumo. 

A resposta então seria: “não consigo suportar o fato de que animais passam por tamanho sofrimento, sentem tanta dor e têm suas vidas tiradas unicamente para nos satisfazer, sendo que nós conseguiríamos sobreviver sem o consumo de carne, ou seja, sem usufruir da vida animal.”

Porém se a resposta fosse: “Não consigo suportar o fato de que seres vivos tenham suas vidas tiradas unicamente para nos satisfazer”, a resposta estaria completamente errada.

Tudo o que pode ser plantado é vivo. A diferença esta na complexidade desses dois fenômenos distintos, entre a vida vegetal e animal. Para nós, hoje, é completamente aceitável a diferença entre uma vida animal e vegetal, pois partimos do conceito que animais sentem e plantas não. Isso já é o suficiente para simplesmente ignorar a presença da vida vegetal, sem que essa tenha algum direito de completar o seu ciclo de vida sem nossa intervenção. Mas não se esqueçam que até esses seres possuem um ciclo, se não forem colhidos na época certa, o tempo passa, eles envelhecem, apodrecem, e morrem como qualquer ser VIVO. 

Óbvio que nos alimentamos de animais, vegetais, cereais, tudo o que é vivo. O objetivo não é dizer: não comam os animais, não comam os vegetais, não comam isso ou aquilo, porque é vivo. Mas sim: aceitem essa verdade. Hoje existe uma extrema valorização da consciência, e a mesma vem tendo seu conceito alterado e modificado por cada pessoa que se julga no direito de fazê-lo. A verdade é que não é preciso ter consciência para ter vida, não importa se estamos falando de um vegetal ou de um animal; vida é vida. Infelizmente, para conseguirmos os nutrientes necessários para nos mantermos vivos é necessário usufruir de outros seres vivos, esse ciclo é marcado por constantes sacrifícios e constantes revitalizações. Os seres nascem e morrem. Simples assim. Complexo assim. Misteriosamente assim.

Ou seja, você poderia dizer “eu não como animais por causa do meu sentimento de pena em relação a eles, mas isso nada tem a ver com meu respeito para com seres vivos.”

Assim você estaria pelo menos expondo a verdade, para si mesmo e para os outros.

O primeiro ser vivo de que se tem conhecimento no nosso planeta é uma bactéria. E a partir dela foram formando-se outros seres vivos, que deram origem a todos os seres  que conhecemos hoje na Terra. Agora, você pode simplesmente ignorar o fato de uma bactéria ser algo vivo, por saber que hoje existem seres mais complexos, ou aceitar a verdade, de que uma bactéria é tão viva quanto o frango que você não comeria, por não querer tirar a vida dele. Sendo que logo depois é provável que você mate o inseto que pousou na sua perna, simplesmente porque ele está lá. Se você acha que uma mão gigante esmagando um ser minusculo é algo diferente de crueldade, eu realmente não te entenderia.

As pessoas têm seus motivos para optar entre comer ou não comer determinadas coisas, e ninguém tem nada a ver com isso. Mas antes de querer convencer alguém (ainda mais usando meios sensacionalistas para isso) de que comer isso ou aquilo é errado, pelo menos use os argumentos certos, e exponha verdades.

Não é a consciência que torna algo vivo ou não.

Do mesmo modo que uma pessoa em estado vegetativo não deixa de estar viva por não estar consciente. Claro que um ser humano ou um animal se diferem de uma planta, mas mesmo que um ser não possua cérebro, vida é vida.

“Quando foram mostrados rostos conhecidos a um paciente inconsciente em estado vegetativo persistente, a chamada área da face (a junção occipitotemporal, no giro fusiforme) acendeu-se em um exame de tomografia funcional, á semelhança do que ocorre em pessoas normais e conscientes das impressões de seus sentidos. A moral da história é simples: a capacidade de produzir padrões neurais para algo a ser conhecido é preservada mesmo quando a consciência não esta mais sendo produzida” - Antonio Damásio